Dor
A dor
é asa
que leva,
e eleva,
é brasa
que arde,
e invade,
e agride,
e insiste
em nascer em flor.
A dor é faca
que serra,
e cerra,
e encerra
o senso
de única visão.
É força estranha
duplo instante
novo itinerário
e só,
e escuro,
e fusco,
e confuso,
que insiste
em matizar
e renascer
a cor.
A dor
é fonte
que suja
e alveja a fronte,
que mata
e reluz horizonte
que queima
e inunda,
reprime,
expele,
e mesmo sem querer
se flagra
a se opor.
A dor
é fogo
em tempestade
sol chuva arco-íris
vida, morte
de mãos dadas
fronteira tênue
interjeição
explosão e alívio
clareza e abismo
sangue
suor
êxtase
horror.
A dor
sonambulismo,
desperta ao dormir
e no auge
da madrugada
passeia
pelos meus cantos
meus ecos,
vazios,
terrenos baldios,
que até então
achava que conhecia...
Nessa noite fria
tudo é dor
num instante
frágil
e momentâneo
e nunca visto por essas bandas.
Mas sei,
que ao despertar do dia
nasce a manhã
assenta-se os mistérios
e o frio se ausentará
E eu,
braços abertos
corpo e alma
e só!
recebo ao sol
e ao seu calor.