Meninas são gigantes

terça-feira, junho 21, 2005

Urubu branco parte II

A carniça apetitosa.
O urubu branco voa.
Os outros devoram.
O urubu branco enjoa.

O instinto nervoso.
Os outros voam.
O urubu branco irrita.
Os outros enjoam.

A carniça destaca.
O instinto multiplica.
A carniça ataca.
O branco do urubu enjoa.

(Urubu é sempre urubu.)

quarta-feira, junho 15, 2005

Não há porra de poesia nenhuma nisto.

Estou triste e não há porra de poesia nenhuma nisso. Ficou só o sentimento de partida e exílio. E nem saí do lugar [pés pequenos para um caminho grande].
Com o sorriso entre os dentes, permaneço estática, olhando pras pernas relapsas, muda no mundo.
Aos amigos [desculpem o pieguismo, sou humana] peço que digam que me querem bem.
Ao grande Salazar, no qual adquiri na primeira venda da esquina, afirmo: uns são mais gauches que os outros. Mas cá entre nós, vá ser gauche assim na puta que pariu. À senhorita Salazar; já sei, já sei, é muita bobagem junto. Ao amigo DJ, saudades do companheirismo. À grande Pami, grito exaltada:
-Ei! Pulha aqui sou eu! E tem um bicho na minha goiaba.
Ao Dioguinho, queria ombro, mas vou me calar com a boca de feijão. À senhorita Mulatinho pergunto curiosamente se se lembra da conversa do colo. Caso positivo, idem. Ao Ti, já sei, "melancolia de cú é rola". Sim Sim. À Deus, precisamos discutir algumas coisas.
Noites em claro não esclarecem nada. E não há porra de poesia nenhuma nisto.

Só se for de samba

para Diogo Costa

Sim, quero tristeza. Mas só se for tristeza de samba. Dá agonia, mas quando dedilha amansa. Samba triste que toca na vitrola até o fim do disco. A batida descompassa com a do peito mas deixa a tristeza suspensa, perto do céu.
Tristeza que chore e engole o choro. E dorme, acorda cedo e vai trabalhar. Tristeza que doa e rodopie. Mas como chiado de criança vem, chia e passa. Depois vai brincar. Tristeza de samba sempre sonha em um dia não ser mais triste. E espera uma flor.

terça-feira, junho 14, 2005

Arvoredo

Eu vejo
na minha frente
um grande arvoredo.
Enorme,
Mas não me mete medo.
E caminho
em direção à ele.

domingo, junho 05, 2005

Os vãos

O falar desesperado.
A mudez desatada na linguagem.

A embriaguez do que é real.
A concretude do cálice quimérico.

A procura incessante do sentido [e em vão].
A resposta da sombra e do sonho.

A tangente da memória e da vivência.
O retrato gravado no sopro do vento.

A busca da verdade essencial.
O encontro do habitante desconhecimento.

A certeza do instante.
O rastro do acontecido.

A verdade do subjetivo.
A incerteza das quatro paredes.

A calmaria ocre dos fatos.
A crença, a fortaleza por si só.

Urubu branco

O homem masca
o tempo masca
o homem.

O homem masca
o chiclete masca
o homem.

A vaca masca
o tempo masca
a vaca.

A vaca masca
o capim masca
a vaca.

O capim é engolido
A vaca engole
o capim.

O chiclete engole
o homem é engolido pelo chiclete.