Meninas são gigantes

domingo, fevereiro 18, 2007

Nesse mundo de mudez e nudez...

(à Híndira )
.
...haveria a possibilidade de olhar ao redor
e num rodar-silêncio,
honestamente, sorrir?

...haveria mesmo a honestidade de sorrir,
ainda que viver é rondar
silenciosamente na sua própria
possibilidade de mudo?

...haveria então a possibilidade de mudez
ainda que ro(n)dar
seja dinâmico e o movimento
por si só já nos desnuda,
já que nos revela?

...haveria realmente a honestidade da nudez
ainda que o movimento inevitável
da vida surrealiza a moldura
estática do dia (de vinte e quatro horas)
e o caos dá um medo danado, e
nos inibe a nos despir (e viver)?



[e por ora sinto saudades de seu olhar.
é o mais seguro]

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Ode à louca

.
Nos últimos dias, venho visitando uma menina que é tida pela sociedade como louca. Louca de carteirinha, por laudo médico, dessas com passagem gratuita dada pelo governo, fazendo tratamento psiquiátrico, tomando remédio tarja preta, desses receitados pra doido varrido.

Nos últimos dias, prefiri conviver com a louca. Contei a ela todos os sonhos alucinados que
tive nesse último ano, a sopa deliciosa de palavras que ouvi e foram jogadas aos porcos: nossa mesa estava farta, falamos das últimas notícias, brindamos à seco nossa hipocrisia,
publicamos berros altos em nossos jornais imaginários. E em silêncio, notei que pra participar de toda essa merda em que vivemos dia-a dia e ser respeitado, é necessário ser sádico, comer carne humana, e cuspir em cima da vida pra ser visto como normal. Ainda que convulsionasse. Ainda que sangrasse os olhos. Ainda que houvesse lama.


.
Um olho dela, refletia os outros rostos cheios de repulsa que murmuravam:
-olha ela, a louca!

.
E o outro olho da louca manifestava de que jeito nos ensinam a viver e morrer em dez lições. Os olhos da louca eram ásperos o tempo todo, todavia de vez em vez, algum desespero silencioso os tomava por ocos, num vácuo fofo e inexpressivo. Os olhos dela, nessas horas, confortava o peito aflito de seus familiares, como se ela deixasse de ser um inseto repugnante, e voltasse a ser a ente querida que sempre foi.

.